UMA NÉVOA DE OUTONO O AR RARO VELA

Uma névoa de Outono o ar raro vela,
Cores de meia-cor pairam no céu.
O que indistintamente se revela,
Árvores, casas, montes, nada é meu.

Sim, vejo-o, e pela vista sou seu dono.
Sim, sinto-o eu pelo coração, o como.
Mas entre mim e ver há um grande sono.
De sentir é só a janela a que eu assomo.

Amanhã, se estiver um dia igual,
Mas se for outro, porque é amanhã,
Terei outra verdade, universal,
E será como esta [...]

(Autor: Fernando Pessoa)

  

  

 

 


 

domingo, 29 de abril de 2012

Rumor



Acorda-me
um rumor de ave.
Talvez seja a tarde
a querer voar.

A levantar do chão

qualquer coisa que vive,
e é como um perdão
que não tive.

Talvez nada.

Ou só um olhar
que na tarde fechada
é ave.

Mas não pode voar. 

(Autor: Eugênio de Andrade)

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