UMA NÉVOA DE OUTONO O AR RARO VELA

Uma névoa de Outono o ar raro vela,
Cores de meia-cor pairam no céu.
O que indistintamente se revela,
Árvores, casas, montes, nada é meu.

Sim, vejo-o, e pela vista sou seu dono.
Sim, sinto-o eu pelo coração, o como.
Mas entre mim e ver há um grande sono.
De sentir é só a janela a que eu assomo.

Amanhã, se estiver um dia igual,
Mas se for outro, porque é amanhã,
Terei outra verdade, universal,
E será como esta [...]

(Autor: Fernando Pessoa)

  

  

 

 


 

sexta-feira, 4 de novembro de 2011

Divagações



Escrevo como a degustar palavras.
Enólogo provando vinhos.
A alma divaga, vaga,
Por paraísos e infernos.
Por estados diversos de excitação,
De prosas tristes e versos.
Vago entre flores perfumadas,
De aromas exóticos.
Louca abelha a colher do néctar e veneno,
De cada uma delas.
Corto-me esquartejando meu corpo,
Em pedaços cada vez menores.
Como formigas a destruírem plantas,
Em seus afazeres e labuta.
Caminho por sendas íngremes,
Que levam a precipícios,
Meus vícios,
Medos, guardados segredos.
Desvendo-me à luz de velas,
De templos antigos,
Castelos.
Queimo-me de fogo em fogueiras,
A relva queimando,
Arde meu corpo corpo, como lenha,
Acesa em brasa.
A alma poeta,
Repleta de perguntas, muda e calada,
Segue um rumo.
Sou ido, findo.
Já fui paraíso,
Não sou mais.
Cheguei, é meu fim,
Meu vôo final
Já fiz.
E no etéreo cosmo,
Agora,
Estou,
Sou energia, apenas.

(Autor: Mário Teixeira)

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