UMA NÉVOA DE OUTONO O AR RARO VELA

Uma névoa de Outono o ar raro vela,
Cores de meia-cor pairam no céu.
O que indistintamente se revela,
Árvores, casas, montes, nada é meu.

Sim, vejo-o, e pela vista sou seu dono.
Sim, sinto-o eu pelo coração, o como.
Mas entre mim e ver há um grande sono.
De sentir é só a janela a que eu assomo.

Amanhã, se estiver um dia igual,
Mas se for outro, porque é amanhã,
Terei outra verdade, universal,
E será como esta [...]

(Autor: Fernando Pessoa)

  

  

 

 


 

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Amor Vivo

Amar! Mas d'um amor que tenha vida...
Não sejam sempre tímidos arpejos,
não sejam só delírios e desejos
d'uma doída cabeça escandecida...

Amor que viva e brilhe! Luz fundida
que penetre o meu ser - E não só beijos
dados no ar - Delírios e desejos -
Mas amor... Dos amores que têm a vida...

Sim, vivo e quente! E já a luz do dia
não virá dissipá-lo nos meus braços
como névoa da vaga fantasia...

Nem murchará o sol à chama erguida...
Pois que podem os astros dos espaços
contra uns débeis amores... Se têm vida?

(Autor: Antero de Quental)

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