UMA NÉVOA DE OUTONO O AR RARO VELA

Uma névoa de Outono o ar raro vela,
Cores de meia-cor pairam no céu.
O que indistintamente se revela,
Árvores, casas, montes, nada é meu.

Sim, vejo-o, e pela vista sou seu dono.
Sim, sinto-o eu pelo coração, o como.
Mas entre mim e ver há um grande sono.
De sentir é só a janela a que eu assomo.

Amanhã, se estiver um dia igual,
Mas se for outro, porque é amanhã,
Terei outra verdade, universal,
E será como esta [...]

(Autor: Fernando Pessoa)

  

  

 

 


 

domingo, 14 de novembro de 2010

Ao Poente

Ficávamos sonhando horas inteiras,
 com os olhos cheios de visões piedosas:
éramos duas virginais palmeiras,
abrindo ao céu as palmas silenciosas.
As nossas almas, brancas, forasteiras,
 no éter sublime alavam-se radiosas.
Ao redor de nós dois, quantas roseiras!
O áureo poente coroava-nos de rosas.
Era um harpejo de harpa todo o espaço:
mirava-a longamente, traço a traço,
 no seu fulgor de arcanjo proibido.
Surgia a Lua, além, toda de cera...
Ai como suave então me parecera
a voz do amor que eu nunca tinha ouvido!
(Autor: Alphonsus de Guimarães)

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