UMA NÉVOA DE OUTONO O AR RARO VELA

Uma névoa de Outono o ar raro vela,
Cores de meia-cor pairam no céu.
O que indistintamente se revela,
Árvores, casas, montes, nada é meu.

Sim, vejo-o, e pela vista sou seu dono.
Sim, sinto-o eu pelo coração, o como.
Mas entre mim e ver há um grande sono.
De sentir é só a janela a que eu assomo.

Amanhã, se estiver um dia igual,
Mas se for outro, porque é amanhã,
Terei outra verdade, universal,
E será como esta [...]

(Autor: Fernando Pessoa)

  

  

 

 


 

segunda-feira, 5 de agosto de 2013

Soneto


Colaborou comigo a Primavera,
Em tudo quanto há tempos te escrevia,
E são da rosa, do lilás, da hera,
Muitos dos versos que te dei um dia.

No meio de uma rima mais severa,
Mais intensa, ou mais cheia de harmonia,
Eu, quantas vezes, me fiquei à espera,
A ver como é que o Sol a acabaria?

As imagens mais altas e formosas
São dele, e são dos lírios mais das rosas,
Da luz da hora toda, em que te vi;

De modo que este amor lindo e distante
Foi o Sol, que te amou por um instante,
O mês de Maio que gostou de ti. 

(Autor: Joaquim Nunes Claro) 

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