UMA NÉVOA DE OUTONO O AR RARO VELA

Uma névoa de Outono o ar raro vela,
Cores de meia-cor pairam no céu.
O que indistintamente se revela,
Árvores, casas, montes, nada é meu.

Sim, vejo-o, e pela vista sou seu dono.
Sim, sinto-o eu pelo coração, o como.
Mas entre mim e ver há um grande sono.
De sentir é só a janela a que eu assomo.

Amanhã, se estiver um dia igual,
Mas se for outro, porque é amanhã,
Terei outra verdade, universal,
E será como esta [...]

(Autor: Fernando Pessoa)

  

  

 

 


 

segunda-feira, 5 de agosto de 2013

Abril

 
Como um pássaro pousado
no topo de uma árvore,
Abril espera o tempo oportuno,
sabendo que tudo muda.


A erva mais insignificante
verdeja promessas de bom tempo,
quer o céu esteja cinzento, quer azul.

Entre o pólen doirado
que cai dos plátanos
passa a gente indiferente;
entre chispas incandescentes e feridas
canta e ajuda o vento.

Um Abril me vai trazer
pelo ar uma canção,
o meu amigo cantava-a,
também a quero cantar eu!

Ai Abril, mês amoroso,
ar de luz,
voo de sementes!

Que nos trará o rio de Abril
na sua corrente:
água pura, água turva,
boas horas ou tempos maus?
Serão de morte ou de vida
estas flores?
Eu quero a do meu amigo,
cravo de bons aromas.

Querido, não estejas triste
se te custa respirar,
se Março não nos trouxe mudança
um bom Abril o fará.

(Autora: Maria del Mar Bonet)

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