UMA NÉVOA DE OUTONO O AR RARO VELA

Uma névoa de Outono o ar raro vela,
Cores de meia-cor pairam no céu.
O que indistintamente se revela,
Árvores, casas, montes, nada é meu.

Sim, vejo-o, e pela vista sou seu dono.
Sim, sinto-o eu pelo coração, o como.
Mas entre mim e ver há um grande sono.
De sentir é só a janela a que eu assomo.

Amanhã, se estiver um dia igual,
Mas se for outro, porque é amanhã,
Terei outra verdade, universal,
E será como esta [...]

(Autor: Fernando Pessoa)

  

  

 

 


 

quarta-feira, 22 de maio de 2013

Pranto e Riso



No pranto da criança não diviso
Mágoa nenhuma, é tudo luz e encanto;
Tem, nuns restos de céu e paraíso,
Toda a alegria matinal de um canto.

Mas, de um velho, num rápido sorriso,
Mágoas profundas eu percebo entanto!
No pranto da criança há quase riso,
No sorriso do velho há quase pranto!...

Ri-se o velho, é um pôr de sol que chora;
Chora a criança, é como se uma aurora
Num chuveiro de pérolas se abrisse;

E tem muito mais luz, mais esperança,
A lágrima nos olhos da criança
Que o sorriso nos lábios da velhice!...
 
(Autor: Alfredo de Assis)

Nenhum comentário: