UMA NÉVOA DE OUTONO O AR RARO VELA

Uma névoa de Outono o ar raro vela,
Cores de meia-cor pairam no céu.
O que indistintamente se revela,
Árvores, casas, montes, nada é meu.

Sim, vejo-o, e pela vista sou seu dono.
Sim, sinto-o eu pelo coração, o como.
Mas entre mim e ver há um grande sono.
De sentir é só a janela a que eu assomo.

Amanhã, se estiver um dia igual,
Mas se for outro, porque é amanhã,
Terei outra verdade, universal,
E será como esta [...]

(Autor: Fernando Pessoa)

  

  

 

 


 

segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Deixem minha alma florescer

Deixem minha alma florescer 
na lua meu remoto canteiro de esperanças 
ou me deixem viver num fim de rua 
entre rosas baldias sem lembranças. 
Saudade de horizontes me extenúa.
Procurem-me nos olhos de crianças onde
o instinto dos deuses retribua o beijo 
dos extremos das distâncias.
A calma dos jardins não faz sentido a flor calada 
assim não se consente e rosa num deserto é flor proscrita. 
Consinta o coração sonhar perdido 
e de perder-se meu amor aumente 
o tanto quanto seja a alma infinita.

(Autor: Afonso Estebanez)

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