UMA NÉVOA DE OUTONO O AR RARO VELA

Uma névoa de Outono o ar raro vela,
Cores de meia-cor pairam no céu.
O que indistintamente se revela,
Árvores, casas, montes, nada é meu.

Sim, vejo-o, e pela vista sou seu dono.
Sim, sinto-o eu pelo coração, o como.
Mas entre mim e ver há um grande sono.
De sentir é só a janela a que eu assomo.

Amanhã, se estiver um dia igual,
Mas se for outro, porque é amanhã,
Terei outra verdade, universal,
E será como esta [...]

(Autor: Fernando Pessoa)

  

  

 

 


 

quarta-feira, 30 de março de 2016

Outono

Ele chegou e é assim,
um azul faiscante
um sol que é mais luz que calor
e faz brilhar, de um jeito que não dá pra explicar,
o dia e suas flores.

Ele vem e doura as paredes respingadas
pela chuva que se foi
e penetra no âmago das árvores,
seu verde ainda mais intenso,
o cheiro de mato molhado pela enchente
que ontem
o anunciou.

Ele é recebido com alegria pela passarada
e pelos rios que, por entre pedras, insistem
em suas rotas para o mar.
E, nas cidades, sua luz ofusca as ruas agora secas,
e as janelas abertas para o sol entrar.

Ele é saudado por toda a natureza
no deserto acalma o calor com brisa
e prepara noites de cândidos céus estrelados
e deita as folhagens com brandura
e mostra sua perfeição com candura.

Ele é lindo! Um fim e um início;
rumo novo e propício
uma nova vida
mais uma saudação
de amor.

(Autora: Cristina Lebre)

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