UMA NÉVOA DE OUTONO O AR RARO VELA

Uma névoa de Outono o ar raro vela,
Cores de meia-cor pairam no céu.
O que indistintamente se revela,
Árvores, casas, montes, nada é meu.

Sim, vejo-o, e pela vista sou seu dono.
Sim, sinto-o eu pelo coração, o como.
Mas entre mim e ver há um grande sono.
De sentir é só a janela a que eu assomo.

Amanhã, se estiver um dia igual,
Mas se for outro, porque é amanhã,
Terei outra verdade, universal,
E será como esta [...]

(Autor: Fernando Pessoa)

  

  

 

 


 

quarta-feira, 30 de março de 2016

Canção de Outono

Perdoa-me, folha seca
Não posso cuidar de ti
Vim para amar neste mundo
E até do amor me perdi.

De que serviu tecer flores
Pelas areias do chão
Se havia gente dormindo
Sobre o próprio coração?

E não pude levantá-la
Choro pelo que não fiz
E pela minha fraqueza
É que sou triste e infeliz
Perdoa-me, folha seca
Meus olhos sem força estão
Velando e rogando a aqueles
Que não se levantarão...

Tu és a folha de outono
Voante pelo jardim
Deixo-te a minha saudade
- A melhor parte de mim
Certa de que tudo é vão
Que tudo é menos que o vento
Menos que as folhas do chão...

(Autora: Cecília Meireles)

Nenhum comentário: