UMA NÉVOA DE OUTONO O AR RARO VELA

Uma névoa de Outono o ar raro vela,
Cores de meia-cor pairam no céu.
O que indistintamente se revela,
Árvores, casas, montes, nada é meu.

Sim, vejo-o, e pela vista sou seu dono.
Sim, sinto-o eu pelo coração, o como.
Mas entre mim e ver há um grande sono.
De sentir é só a janela a que eu assomo.

Amanhã, se estiver um dia igual,
Mas se for outro, porque é amanhã,
Terei outra verdade, universal,
E será como esta [...]

(Autor: Fernando Pessoa)

  

  

 

 


 

sexta-feira, 25 de dezembro de 2015

Feliz Natal!

Toda a vida (ainda das coisas que não têm vida) 
não é mais do que uma união.
Uma união de pedras é edifício.
Uma união de tábuas é navio.
Uma união de homens é exército.
E sem esta união tudo perde o nome e mais o ser.
O edifício sem união é ruína.
O navio sem união é naufrágio.
O exército sem união é despojo.
Até o homem (cuja vida consiste na união de alma e corpo) 
com união é homem, sem união é cadáver.
Por mais alta que esteja a cabeça, se não está unida é pés.
Por mais ilustre que seja o ouro, se não está unido é barro.
Nobreza desunida não pode ser, porque, em sendo desunida,
 logo deixa de ser nobreza, logo é vileza.
Para derrubar um reino e muitos reinos onde há desunião não são necessárias baterias, não são necessários canhões, não são necessários trabucos, não são necessários balas, nem pólvora, basta uma pedra, lápis.
Para derrubar um reino, e muitos reinos onde falta à união, não são necessários exércitos, não são necessárias campanhas, não são necessárias batalhas, não são necessários cavalos, não são necessários homens, nem um homem, nem um braço, nem uma mão: 
sine manibus.
Não temos muito boas mãos e o sabem muito bem nossos competidores, mas se não tivermos união, nem eles haverão mister mãos para nós.
Nem a nós nos hão de valer as nossas.
(Autor: Padre Antônio Vieira)

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