A Bíblia é o livro da oração . Suas páginas evocam grandes momentos da história humana que foram vividos em oração. Compare Js
10,12-15 "e os sidônios, e os amalequitas, e os maonitas vos oprimiam, e
vós clamáveis a mim, não vos livrei eu das suas mãos? Contudo, vós me
deixastes a mim e servistes a outros deuses, pelo que não vos livrarei
mais. Ide e clamai aos deuses que escolhestes; eles que vos livrem no
tempo do vosso aperto. Mas os filhos de Israel disseram ao SENHOR: Temos
pecado; faze-nos tudo quanto te parecer bem; porém livra-nos ainda esta
vez, te rogamos.;" e 2Rs 6,17 "Orou Eliseu e disse: SENHOR, peço-te
que lhe abras os olhos para que veja. O SENHOR abriu os olhos do moço, e
ele viu que o monte estava cheio de cavalos e carros de fogo, em redor
de Eliseu.". Desde o seu primeiro livro, Gênesis, até Apocalipse, fica
claro que orar é parte da natureza espiritual do ser humano, assim como a
nutrição é parte do seu sistema fisiológico. Os grandes fatos
escatológicos, como previstos no último livro da Bíblia, serão resultado
das orações dos santos, que clamam a Deus ao longo dos séculos pelo
cumprimento de sua justiça (Ap 5,8 "e, quando tomou o livro, os quatro
seres viventes e os vinte e quatro anciãos prostraram-se diante do
Cordeiro, tendo cada um deles uma harpa e taças de ouro cheias de
incenso, que são as orações dos santos,"; Ap 8,3-4 "Veio outro anjo e
ficou de pé junto ao altar, com um incensário de ouro, e foi-lhe dado
muito incenso para oferecê-lo com as orações de todos os santos sobre o
altar de ouro que se acha diante do trono; e da mão do anjo subiu à
presença de Deus a fumaça do incenso, com as orações dos santos.").
Orar não pode ser visto como ato de penitência para meramente
subjugar a carne. Em nenhum momento a Bíblia traz esta ênfase. Oração
não é castigo (assim como a leitura das Escrituras), idéia que alguns
pais equivocadamente passam para os filhos, quando os ordena a orar como
disciplina por alguma desobediência. Eles acabam criando uma verdadeira
repulsa à vida de oração, desconhecendo o verdadeiro valor que ela
representa para as suas vidas, por terem aprendido pela prática a
reconhecê-la apenas como meio de castigo pessoal. Ao contrário, se
aprenderem que orar é ato que eleva o espírito e brota de maneira
espontânea do coração consciente de sua indispensabilidade, como ensina a
Bíblia, saberão cultivar a oração como exercício de profunda amizade
com Deus que resulta em crescimento espiritual (Cl 1,9 " Por esta razão,
também nós, desde o dia em que o ouvimos, não cessamos de orar por vós e
de pedir que transbordeis de pleno conhecimento da sua vontade, em toda
a sabedoria e entendimento espiritual;"). De igual modo, o mesmo
acontecerá conosco.
Podemos observar o valor da oração, observando os heróis da fé,
descritos em Hebreus 11, que exercitam sua fé através da oração. Não só
eles, mas outros personagens da Bíblia tiveram igual experiência. Abraão
subiu ao monte Moriá, para o sacrifício de Isaque, porque seu nível de
comunhão com Deus através da oração era tal que ele sabia tratar-se de
uma prova de fé (Gn 22,5-8 "Então, disse a seus servos: Esperai aqui,
com o jumento; eu e o rapaz iremos até lá e, havendo adorado, voltaremos
para junto de vós. Tomou Abraão a lenha do holocausto e a colocou sobre
Isaque, seu filho; ele, porém, levava nas mãos o fogo e o cutelo.
Assim, caminhavam ambos juntos. Quando Isaque disse a Abraão, seu pai:
Meu pai! Respondeu Abraão: Eis-me aqui, meu filho! Perguntou-lhe Isaque:
Eis o fogo e a lenha, mas onde está o cordeiro para o holocausto?
Respondeu Abraão: Deus proverá para si, meu filho, o cordeiro para o
holocausto; e seguiam ambos juntos."). É o exemplo da oração que
persevera e confia. Enoque vivênciou a oração de maneira tão intensa que
a Bíblia o denomina como aquele que andava com Deus (Gn 5,24 "Andou
Enoque com Deus e já não era, porque Deus o tomou para si."). É o
exemplo da oração em todo o tempo.
Moisés trocou a honra e a opulência dos palácios egípcios porque teve
o privilégio de falar com o Senhor face a face e com ele manter íntima
comunhão por toda a vida , ver Êx 3,1-22 e Ex 4,1-17, ele é o exemplo da
oração que muda as circunstâncias. Entre os profetas destaca-se, Elias,
cujo exemplo Tiago aproveita para ensinar que o crente sujeito às
mesmas fraquezas, pode diante de Deus (Tg 5,17-18 "Elias era homem
semelhante a nós, sujeito aos mesmos sentimentos, e orou, com instância,
para que não chovesse sobre a terra, e, por três anos e seis meses, não
choveu. E orou, de novo, e o céu deu chuva, e a terra fez germinar seus
frutos."). É o exemplo da oração que supera as deficiências humanas.
Esses heróis são as testemunhas mencionadas em Hb 12,1 "Portanto,
também nós, visto que temos a rodear-nos tão grande nuvem de
testemunhas, desembaraçando-nos de todo peso e do pecado que tenazmente
nos assedia, corramos, com perseverança, a carreira que nos está
proposta,". Ou seja, se eles, que não viveram na dispensação do Espírito
Santo, tiveram condições de viver de modo tão intenso na presença de
Deus, quanto mais o crente, hoje, que conta com o auxílio permanente e
direto do Espírito Santo, movendo-o para uma vida de oração. Todos os
crentes necessitam, devem e podem ter mesma vida de oração que os santos
da Bíblia e tantos outros que a história eclesiástica registra, como
George Muller, João Hide, Lutero e Watman Nee.
O maior exemplo de oração, no entanto, foi o próprio Mestre. Sendo
ele o Filho de Deus, cujos atributos divinos lhes asseguravam o direito
de agir sobrenaturalmente, podia dispensar a oração como prática regular
de sua vida. No entanto, ao humanizar-se, esvaziou-se de todas as
prerrogativas da divindade e assumiu em plenitude a natureza humana (Fp
2,5-8 "Tende em vós o mesmo sentimento que houve também em Cristo Jesus ,
pois ele, subsistindo em forma de Deus, não julgou como usurpação o ser
igual a Deus; antes, a si mesmo se esvaziou, assumindo a forma de
servo, tornando-se em semelhança de homens; e, reconhecido em figura
humana, a si mesmo se humilhou, tornando-se obediente até à morte e
morte de cruz.") experimentando todas as circunstâncias inerentes ao
homem, inclusive a tentação (Hb 4,15 "Porque não temos sumo sacerdote
que não possa compadecer-se das nossas fraquezas; antes, foi ele tentado
em todas as coisas, à nossa semelhança, mas sem pecado."; Mt 4,1-11 "A
seguir, foi Jesus levado pelo Espírito ao deserto, para ser tentado pelo
diabo. E, depois de jejuar quarenta dias e quarenta noites, teve fome.
Então, o tentador, aproximando-se, lhe disse: Se és Filho de Deus, manda
que estas pedras se transformem em pães. Jesus ,
porém, respondeu: Está escrito: Não só de pão viverá o homem, mas de
toda palavra que procede da boca de Deus. Então, o diabo o levou à
Cidade Santa, colocou-o sobre o pináculo do templo e lhe disse: Se és
Filho de Deus, atira-te abaixo, porque está escrito: Aos seus anjos
ordenará a teu respeito que te guardem; e: Eles te susterão nas suas
mãos, para não tropeçares nalguma pedra. Respondeu-lhe Jesus: Também
está escrito: Não tentarás o Senhor, teu Deus. Levou-o ainda o diabo a
um monte muito alto, mostrou-lhe todos os reinos do mundo e a glória
deles e lhe disse: Tudo isto te darei se, prostrado, me adorares. Então,
Jesus lhe ordenou: Retira-te, Satanás, porque está escrito: Ao Senhor,
teu Deus, adorarás, e só a ele darás culto. Com isto, o deixou o diabo, e
eis que vieram anjos e o serviram.").
Ora, isto significa que o Senhor dependeu tanto da oração como
qualquer outra pessoa que se proponha a servir integralmente a Deus. Ela
foi o instrumento pelo qual pôde suportar as afrontas, não dar lugar ao
pecado, tomar sobre si o peso da cruz e vencer o maligno (Mt 26:36-46
"Em seguida, foi Jesus com eles a um lugar chamado Getsêmani e disse a
seus discípulos: Assentai-vos aqui, enquanto eu vou ali orar; e, levando
consigo a Pedro e aos dois filhos de Zebedeu, começou a entristecer-se e
a angustiar-se. Então, lhes disse: A minha alma está profundamente
triste até à morte; ficai aqui e vigiai comigo. Adiantando-se um pouco,
prostrou-se sobre o seu rosto, orando e dizendo: Meu Pai, se possível,
passe de mim este cálice! Todavia, não seja como eu quero, e sim como tu
queres. E, voltando para os discípulos, achou-os dormindo; e disse a
Pedro: Então, nem uma hora pudestes vós vigiar comigo? Vigiai e orai,
para que não entreis em tentação; o espírito, na verdade, está pronto,
mas a carne é fraca. Tornando a retirar-se, orou de novo, dizendo: Meu
Pai, se não é possível passar de mim este cálice sem que eu o beba,
faça-se a tua vontade. E, voltando, achou-os outra vez dormindo; porque
os seus olhos estavam pesados. Deixando-os novamente, foi orar pela
terceira vez, repetindo as mesmas palavras. Então, voltou para os
discípulos e lhes disse: Ainda dormis e repousais! Eis que é chegada a
hora, e o Filho do Homem está sendo entregue nas mãos de pecadores.
Levantai-vos, vamos! Eis que o traidor se aproxima.").
Os evangelhos registram a vida de oração do Mestre. Ele orava pela
manhã (Mc 1,35 "Tendo-se levantado alta madrugada, saiu, foi para um
lugar deserto e ali orava."), à tarde (Mt 14,23 "E, despedidas as
multidões, subiu ao monte, a fim de orar sozinho. Em caindo a tarde, lá
estava ele, só.") e passava noites inteiras em comunhão com Deus (Lc
6:12 "Naqueles dias, retirou-se para o monte, a fim de orar, e passou a
noite orando a Deus."). Se Ele viveu esse tipo de experiência 24 horas
por dia, de igual modo Deus espera a mesma atitude de cada crente. Não
apenas uns poucos minutos, com palavras rebuscadas de falsa
espiritualidade, para receber as honras dos homens, mas em todo o tempo,
como oferta de um coração que se dispõe a permanecer humildemente no
altar de oração.
A oração modelo, registrada em Mt 6,9-13, não é simplesmente uma
fórmula para ser repetida. Se assim fosse, o Mestre não teria condenado
as "vãs repetições" dos gentios. Seria uma incongruência. O seu
propósito é revelar os pontos principais que dão forma ao conteúdo da
oração cristã. Ela não é uma oração universal, mas se destina
exclusivamente àqueles que podem reconhecer a Deus como Pai, por
intermédio de Jesus Cristo. A oração do crente, sincera e completa em
seu objetivo, traz em si estes aspectos:
[1] Reconhecimento da soberania divina (Pai nosso, que estás nos céus,);
[2] Reconhecimento da santidade divina (santificado seja o teu nome;);
[3] Reconhecimento da vinda do reino no presente e sua implantação no futuro (venha o teu reino;);
[4] Submissão sincera à vontade divina (faça-se a tua vontade, assim na terra como no céu;)
[5] Reconhecimento que Deus supre as nossas necessidades pessoais (11 o pão nosso de cada dia dá-nos hoje;);
[6] Disposição de perdoar para receber perdão (e perdoa-nos as nossas
dívidas, assim como nós temos perdoado aos nossos devedores;);
[7] Proteção contra a tentação e as ações malignas (e não nos deixes cair em tentação; mas livra-nos do mal);
[8] Desprendimento para adorar a Deus em sua glória (pois teu é o reino, o poder e a glória para sempre. Amém!).
(Autor: Padre Chrystian Shankar)
(Autor: Padre Chrystian Shankar)
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