UMA NÉVOA DE OUTONO O AR RARO VELA

Uma névoa de Outono o ar raro vela,
Cores de meia-cor pairam no céu.
O que indistintamente se revela,
Árvores, casas, montes, nada é meu.

Sim, vejo-o, e pela vista sou seu dono.
Sim, sinto-o eu pelo coração, o como.
Mas entre mim e ver há um grande sono.
De sentir é só a janela a que eu assomo.

Amanhã, se estiver um dia igual,
Mas se for outro, porque é amanhã,
Terei outra verdade, universal,
E será como esta [...]

(Autor: Fernando Pessoa)

  

  

 

 


 

segunda-feira, 16 de março de 2015

Quaresma 2015

A Quaresma é um tempo em que somos convidados (como pessoas, como família e como comunidade) a fazer um esforço de conversão e transformação interior, voltando‐nos para o essencial e renovando o mistério da nossa identidade cristã. Preparamos especificamente neste tempo essa “passagem” – que é a Páscoa – que Jesus nos propõe cada ano e que representa o culminar do mistério maior do Amor de Deus por nós e um “momento” renovado de proximidade com Jesus e com a Sua aposta na nossa humanidade.


Quaresma – Tempo de Deserto 
Leitura proposta (Mateus 3, 1‐ 6) 
João Batista pregava no deserto, rezando, vestindo‐se de pele de camelo e comendo gafanhotos: onde e como poderemos encontrar/fazer “deserto” na nossa vida? Conseguimos identificar concretamente alguns “confortos”/“coisas supérfluas”/“ruídos”/”azáfamas” que – por muito bons que possam ser – nos impedem de encontrar Jesus e de centrar a nossa existência n’ Ele? Que tal tentar fazer – durante estes dias de Quaresma – uma experiência de concentração no essencial: menos conforto/peso/ruído/distração, mais oração e mais atenção aos outros? 

Anúncio do nascimento de Jesus 
 Leitura proposta (Lucas 1, 26 – 38) 
Estamos disposto a deixar entrar os “anjos” do Senhor em nossa casa: como reconhecemos os “enviados” do Pai?   Como preparamos o nosso coração para os “desafios” insondáveis – e tantas vezes incômodos ‐ que Deus tem para nós? Aceitamos que Deus nos quer para morada do seu Filho?   Quais as dificuldades a que nos agarramos mais frequentemente para recusar os apelos do Senhor: medo, comodismo, vergonha, pudor, angústia, auto‐justificação, etc... (“hoje não dá jeito”, “não sou capaz”, “não tenho a casa arrumada”, “logo que houver mais tempo – ou dinheiro –“ etc...)?   No fundo, estamos dispostos a dizer “Sou o Servo do Senhor, faça‐se em mim segundo a Sua vontade”? 

Nascimento de Jesus   
Leitura proposta (Lucas 2, 1‐20) 
“Glória a Deus nas alturas e paz na terra aos homens de boa vontade”! Nasceu o Salvador.   Contemplemos o milagre deste Deus que se fez Menino e veio ao Mundo, na mais humilde das manjedouras. Este momento glorioso do princípio da Salvação (com o cumprimento das promessas de Deus) que parece tão simples, tão pobre, tão essencial. Guardemos sempre esse singular momento de esperança, que o presépio nos acompanhe em todas as alegrias e adversidades. Sigamos a atitude de Maria: Que tal aproveitar este tempo para tentar “ponderar” o que nos acontece “com o coração”? Não será isso a que se chama rezar?

Jesus entre os doutores
 Leitura proposta (Lucas 2, 41‐52) 
“Porque me procuráveis? Não sabíeis que devia estar em casa de meu Pai”... Imaginamos a aflição de Maria e José e a atração de Jesus ao templo – à casa de Seu/nosso Pai. Lembremos as dificuldades, incompreensões, desencontros e “dores de crescimento” nas nossas próprias famílias e confiemos no diálogo e na oração como forma de as superar. Sobretudo, não nos esqueçamos nunca da nossa verdadeira casa.  

Batismo de Jesus 
Leitura proposta (Marcos 1, 9‐11)    
Jesus, filho de Deus, quis ser baptizado pelas mãos de João Batista, assumindo – uma vez mais – a sua plena condição humana.   Deus disse‐Lhe (e Deus diz‐nos):   “Tu és o Meu Filho muito amado, em Ti pus todo o meu enlevo”.   É humano angustiarmo‐nos com as nossas faltas e com as nossas limitações, mas não nos podemos esquecer nunca que – aconteça o que acontecer – somos “os filhos amados de Deus”!    

Jesus tentado no deserto 
 Leitura proposta (Mateus 4, 1‐11) 
Jesus foi tentado... e nós?   O que é que verdadeiramente nos “tenta”? O que é nos afasta de Deus, dos outros e da nossa Felicidade?   Que, no deserto desta Quaresma, percebamos sempre que o verdadeiro “pecado” é o da “auto‐suficiência”, da superioridade, da desnecessidade de Deus.   Que as “tentações” e as nossas faltas sejam, não apenas razão de angústia, mas sobretudo oportunidades de nos aproximarmos, por necessidade absoluta, de Deus. 

Chamamento dos primeiros apóstolos 
Leitura proposta (Lucas 5, 1‐11) 
“Faz‐te ao largo”! Como reagimos – depois de repetidos insucessos e frustrações (na pesca como na vida) – ao comando amoroso de Jesus: confiamos e lançamos as nossas “redes” ou desistimos porque achamos que não vamos apanhar nada? Não esquecemos Pedro: Somos pecadores chamados a ser “pescadores” (de homens). Que os nossos pecados não sejam desculpa para faltarmos “à chamada” de Jesus.

Chamamento de Levi
Leitura proposta (Lucas 5, 27‐32) 
Jesus, para espanto e repúdio dos fariseus e doutores da lei, senta‐se à mesa com os “cobradores de impostos” e com os pecadores... E à nossa “mesa”? Quem sentamos? Apenas aqueles de quem gostamos e de que nos sentimos próximos ou também aqueles que, pensando/vivendo de forma diferente, precisam da nossa presença e do nosso olhar?   Quem podemos convidar para a nossa casa? Quem espera o nosso convite e a nossa amizade? Sabemos, por outro lado, que – quando nos sentimos “publicanos”, indesejados, fracos, pecadores – temos sempre a mesa e a companhia do Senhor.

(Fonte: unidadepastoral.weebly.com)

Nenhum comentário: