UMA NÉVOA DE OUTONO O AR RARO VELA

Uma névoa de Outono o ar raro vela,
Cores de meia-cor pairam no céu.
O que indistintamente se revela,
Árvores, casas, montes, nada é meu.

Sim, vejo-o, e pela vista sou seu dono.
Sim, sinto-o eu pelo coração, o como.
Mas entre mim e ver há um grande sono.
De sentir é só a janela a que eu assomo.

Amanhã, se estiver um dia igual,
Mas se for outro, porque é amanhã,
Terei outra verdade, universal,
E será como esta [...]

(Autor: Fernando Pessoa)

  

  

 

 


 

sexta-feira, 1 de janeiro de 2010

Procura-se


Homem considerado galileu. Trinta e três anos.
Pele clara e expressão triste.
Cabelos longos e barba maltratada.
Marcas sanguinolentas nas mãos
e nos pés.
Caminha habitualmente acompanhado de mendigos
e vagabundos,
doentes e mutilados, cegos e infelizes.
Onde aparece, frequentemente, é visto,
entre grande séquito de mulheres,
sendo algumas de má vida, com crianças esfarrapadas,
Quase sempre está seguido por doze pescadores
e marginais.
Demonstra respeito para com as autoridades,
determinando se dê a César o que é de César,
mas espalha ensinamentos contrários à
Lei antiga, como sejam:
- perdão das ofensas;
- o amor aos inimigos;
- a oração em favor daqueles que nos
perseguem ou caluniam;
- a distribuição indiscriminada de dádivas
com os necessitados;
- o amparo aos enfermos,
sejam eles quais forem;
- e chega ao cúmulo de recomendar que
uma pessoa espancada numa face ofereça
a outra ao agressor.
Ainda não se sabe se é mágico,
mas testemunhas idôneas afirmam que
ele multiplicou cinco pães e dois peixes
em alimentação para mais de cinco mil pessoas,
tendo sobrado doze cestos.
Considerado impostor por haver trazido
pessoas mortas à vida,
foi preso e espancado.
Sentenciado à morte, com absoluta aprovação
do próprio povo que o condenou,
de preferência à Barrabás, malfeitor conhecido,
recebeu insultos e pedradas, sem reclamar,
quando conduzia a cruz às costas.
Não se defendeu, quando questionado pela justiça.
Complicando-se-lhe a situação,
porque seus próprios seguidores
o abandonaram nas horas difíceis.
Sob afrontas e zombarias,
foi crucificado entre dois ladrões.
Não teve parentes que lhe demonstrassem
solidariedade, a não ser sua Mãe,
uma frágil mulher que chorava aos pés da cruz.
Depois de morto, não se encontrou lugar
para sepultá-lo,
senão lodoso recanto de um tumulo por favor
de um amigo.
Após o terceiro dia do sepultamento,
desapareceu do sepulcro e já foi visto
por diversas pessoas que o identificaram pelas
chagas sangrentas dos pés e das mãos.
Esse é o homem que esta sendo cuidadosamente
procurado.
Seu nome é "Jesus de Nazaré".
Se puderes encontrá-lo,
deves segui-lo para sempre.

(Autora: Maria dolores)

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