UMA NÉVOA DE OUTONO O AR RARO VELA

Uma névoa de Outono o ar raro vela,
Cores de meia-cor pairam no céu.
O que indistintamente se revela,
Árvores, casas, montes, nada é meu.

Sim, vejo-o, e pela vista sou seu dono.
Sim, sinto-o eu pelo coração, o como.
Mas entre mim e ver há um grande sono.
De sentir é só a janela a que eu assomo.

Amanhã, se estiver um dia igual,
Mas se for outro, porque é amanhã,
Terei outra verdade, universal,
E será como esta [...]

(Autor: Fernando Pessoa)

  

  

 

 


 

quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014

Ao Sono

 
Rebanho de ovelhas que lentamente passa
Uma de cada vez, o som da chuva e o farfalhar
Das folhas ao vento, abelhas, cascatas e o mar,
Prados, lenços d’água e o céu que esvoaça;
Sobre eles divaguei, um por um e ainda estou
Desperto! Logo os pássaros cantando
Nas árvores do pomar estarei escutando,
E o primeiro trinado do cuco que lá pousou.
Ontem e nas duas outras noites foi assim
Sono! Com todos os ardis não te pude receber:
Poupes-me nesta noite, vem a mim
Sem ti, que seria do encanto do alvorecer?
Vem, barreira entre o dia e a noite, enfim,
Pai do fresco pensar e do saudável viver!

(Autor: William Wordsworth)

Nenhum comentário: