UMA NÉVOA DE OUTONO O AR RARO VELA

Uma névoa de Outono o ar raro vela,
Cores de meia-cor pairam no céu.
O que indistintamente se revela,
Árvores, casas, montes, nada é meu.

Sim, vejo-o, e pela vista sou seu dono.
Sim, sinto-o eu pelo coração, o como.
Mas entre mim e ver há um grande sono.
De sentir é só a janela a que eu assomo.

Amanhã, se estiver um dia igual,
Mas se for outro, porque é amanhã,
Terei outra verdade, universal,
E será como esta [...]

(Autor: Fernando Pessoa)

  

  

 

 


 

sexta-feira, 3 de janeiro de 2014

Um poema solto

Às altas torres chegam os ventos tristes,
Na floresta do Norte brilha o Sol da manhã;
Ele vagueia lá em baixo, por distâncias infinitas.
Rios e lagos, tão profundos, tão longínquos. 

Que barca nos levará a essas margens?
E como custa a suportar - a solidão!
Voando para Sul, eis que um ganso selvagem
Lança ao passar um longo grito desolado. 

Segue a sua rota o meu desgosto, na direcção do ausente.
Que possa clamar-lhe a minha dor, em seu grito,
Aquela ave que no espaço já desaparece,
Asa que foge e me rasga o coração.

(Autor: Cao Zhi)

Nenhum comentário: