UMA NÉVOA DE OUTONO O AR RARO VELA

Uma névoa de Outono o ar raro vela,
Cores de meia-cor pairam no céu.
O que indistintamente se revela,
Árvores, casas, montes, nada é meu.

Sim, vejo-o, e pela vista sou seu dono.
Sim, sinto-o eu pelo coração, o como.
Mas entre mim e ver há um grande sono.
De sentir é só a janela a que eu assomo.

Amanhã, se estiver um dia igual,
Mas se for outro, porque é amanhã,
Terei outra verdade, universal,
E será como esta [...]

(Autor: Fernando Pessoa)

  

  

 

 


 

quarta-feira, 25 de setembro de 2013

Oração das Salamandras


Ó Imortal, Eterno, Inefável e incriado Pai de todas as coisas,
conduzido no carro que desliza sem cessar pelos mundos que dão sempiternas voltas;
dominador das imensidades etéreas,
onde está ereto o trono do teu poder,
sobre o qual teus olhos formidáveis descobrem tudo
e teus belos e santos ouvidos escutam tudo,
atende aos teus filhos,
que amaste desde o nascimento dos séculos;
porque a tua dourada,
grande e eterna majestade resplandece acima do mundo e do céu das estrelas;
estás elevado acima delas,
ó fogo faiscante;
aí, tu te acendes e te conservas a ti mesmo pelo teu próprio esplendor,
e saem da tua essência regatos inesgotáveis de luz,
que nutrem teu espírito infinito.
Este espírito infinito alimenta todas as coisas
e faz tesouro inesgotável de substância pronta à geração que elabora
e que se apropria das formas de que a impregnaste desde o princípio.
Deste espírito tiram também sua origem
estes reis mui santos que estão ao redor do teu trono
e que compõem a tua corte,
ó Pai universal! ó único! ó Pai dos felizes mortais e imortais.
Criaste, em particular,
potências que são maravilhosamente semelhantes ao teu eterno pensamento
e à tua essência adorável;
tu as estabeleceste superiores aos anjos,
que anunciam ao mundo as tuas vontades;
enfim, nos criaste na terceira ordem no nosso império elementar.
Aqui, o nosso contínuo exercício é louvar e adorar os teu desejos;
aqui, ardemos incessantemente aspirando possuir-te.
Ó pai! ó mãe! ó mais terna das mães!
ó arquétipo admirável da maternidade e do puro amor!
ó filho, flor dos filhos! ó forma de todas as formas,
alma, espírito, harmonia e número de todas as coisas!
Amém.

(Autora: Sonia Boechat Salema)

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