UMA NÉVOA DE OUTONO O AR RARO VELA

Uma névoa de Outono o ar raro vela,
Cores de meia-cor pairam no céu.
O que indistintamente se revela,
Árvores, casas, montes, nada é meu.

Sim, vejo-o, e pela vista sou seu dono.
Sim, sinto-o eu pelo coração, o como.
Mas entre mim e ver há um grande sono.
De sentir é só a janela a que eu assomo.

Amanhã, se estiver um dia igual,
Mas se for outro, porque é amanhã,
Terei outra verdade, universal,
E será como esta [...]

(Autor: Fernando Pessoa)

  

  

 

 


 

quinta-feira, 28 de março de 2013

Páscoa dos Pés Descalços



No chão frio com poeiras do tempo, 
há sempre pés descalços que pisam o chão.
Há promessas de compromissos,
 há procura da verdade. 
Há suposições na tarde. 
Há gente comendo bobagem.
Cumprem-se promessas... 
Surgem novas mensagens.
Alguém que aparece do silêncio, 
alguém que sente saudades; 
alguém que está de novo, 
com fome na bagagem.
Todos são sempre bem vindos, 
desde que apareçam por bem. 
A comida é sempre farta; 
mas tem gente que não têm.
Tem gente que passa horas, na fila por uma sardinha. 
Bacalhau é bicho raro, só na casa da vizinha. 
Vizinha não tem pé no chão, usa sapato brilhoso;
 bacalhau e chocolate, não derrama em qualquer estômago.
A vida é este eterno caminhar, descalço... Para muitos. 

(Autora: Mira Ira) 

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