UMA NÉVOA DE OUTONO O AR RARO VELA

Uma névoa de Outono o ar raro vela,
Cores de meia-cor pairam no céu.
O que indistintamente se revela,
Árvores, casas, montes, nada é meu.

Sim, vejo-o, e pela vista sou seu dono.
Sim, sinto-o eu pelo coração, o como.
Mas entre mim e ver há um grande sono.
De sentir é só a janela a que eu assomo.

Amanhã, se estiver um dia igual,
Mas se for outro, porque é amanhã,
Terei outra verdade, universal,
E será como esta [...]

(Autor: Fernando Pessoa)

  

  

 

 


 

sexta-feira, 1 de abril de 2016

Quadro de Outono

Cubro-me de folhas,
mortas por destino,
sangro-me de bagos,
grito-me de ventos,
morro das escolhas
que bebi por vinho.

E o pranto cadente
lava-me das chuvas,
unge-me das seivas,
adoçando os lábios
de preces tementes
dos logros das uvas.

Abandono os gestos
na hora dos tempos
que me cobram rios
que não travessei,
granjeio-me restos
apregoo aos ventos
e
vendo os proventos
do que não plantei.

(Autor Desconhecido)

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