sábado, 6 de julho de 2013

O Dia


Das profundezas da tarde vem o dia em que se vive eternamente
igual à água murmura entre os rochedos
onde se ocultam na ante manhã os peixes perseguidos pelos
homens.

Não se percebe o outro dia melodioso lá fora
nas perspectivas dos arranha-céus, nos cinemas e no trânsito.
A hora tem uma espessura de segredo guardado
e as gargantas de onde as sedes emigraram
suplicam apenas o que sobrou do frio e do sono.

As imprecações dormem no ar, com uma resistência de anjos,
e as doçuras se desfiguram numa ilusão de joelhos fendidos
n'água
como se os corpos sentissem que o tempo foi embora.

A vida, liberta dos vocabulários eventuais, festeja-se sem
memória
no espírito acorrentado a um infinito agora
eternamente presente como o oceano nas praias.

(Autor: Lêdo Ivo)

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