UMA NÉVOA DE OUTONO O AR RARO VELA

Uma névoa de Outono o ar raro vela,
Cores de meia-cor pairam no céu.
O que indistintamente se revela,
Árvores, casas, montes, nada é meu.

Sim, vejo-o, e pela vista sou seu dono.
Sim, sinto-o eu pelo coração, o como.
Mas entre mim e ver há um grande sono.
De sentir é só a janela a que eu assomo.

Amanhã, se estiver um dia igual,
Mas se for outro, porque é amanhã,
Terei outra verdade, universal,
E será como esta [...]

(Autor: Fernando Pessoa)

  

  

 

 


 

quinta-feira, 11 de julho de 2013

À Estrela


Até à estrela que reluz
Há uma distância de trespasse.
Correu milênios sua luz
Para que enfim nos alcançasse

Talvez há muito já se fora
No longe azul extinto astro
Porém seus raios só agora
Ao nosso olhar mostram seu rastro.

A aura da estrela que morreu
No alto do céu se faz dar fé.
Era, e ninguém a percebeu,
Hoje que a vemos já não é.

Também assim a nossa dor
Na abissal noite se finda.
Porém a luz do extinto amor
Os nossos passos segue ainda.

(Autor: Mihai Eminescu)

Nenhum comentário: