UMA NÉVOA DE OUTONO O AR RARO VELA

Uma névoa de Outono o ar raro vela,
Cores de meia-cor pairam no céu.
O que indistintamente se revela,
Árvores, casas, montes, nada é meu.

Sim, vejo-o, e pela vista sou seu dono.
Sim, sinto-o eu pelo coração, o como.
Mas entre mim e ver há um grande sono.
De sentir é só a janela a que eu assomo.

Amanhã, se estiver um dia igual,
Mas se for outro, porque é amanhã,
Terei outra verdade, universal,
E será como esta [...]

(Autor: Fernando Pessoa)

  

  

 

 


 

sexta-feira, 16 de novembro de 2012

Por aí além


Deixa um momento o asfalto, vem comigo,
entre jogos de sombra e claridade
conhecer a cintura da cidade.

Respira a plenitude do silêncio

destes montes e montes sucessivos
que ignoram a dor dos seres vivos.

Mergulha no mistério vegetal

da mata exuberante, onde as lianas
e as bromélias se calam, soberanas.

E na imobilidade do saveiro

diante da igrejinha, vai sentindo
o que é doçura e paz na hora fluindo.

(Autor:
Carlos Drummond de Andrade)

Nenhum comentário: