UMA NÉVOA DE OUTONO O AR RARO VELA

Uma névoa de Outono o ar raro vela,
Cores de meia-cor pairam no céu.
O que indistintamente se revela,
Árvores, casas, montes, nada é meu.

Sim, vejo-o, e pela vista sou seu dono.
Sim, sinto-o eu pelo coração, o como.
Mas entre mim e ver há um grande sono.
De sentir é só a janela a que eu assomo.

Amanhã, se estiver um dia igual,
Mas se for outro, porque é amanhã,
Terei outra verdade, universal,
E será como esta [...]

(Autor: Fernando Pessoa)

  

  

 

 


 

quinta-feira, 13 de setembro de 2012

Estrelas Apagadas



Cândida estrela, que no etéreo espaço
brilhas com luz encantadora e viva
e atrás da qual minh’alma pensativa
do céu se lança pelo azul regaço,

quando, às vezes, te fito, em mim se aviva
um pensamento nebuloso e baço
e eu cismo que talvez o último passo
nas órbitas do azul deste, cativa,

e hoje essa luz, a luz que nos envias
-astro apagado do correr dos dias-
teu morto foco nem sequer a tem!

Então minh’alma, desprendida, pensa
que inda perdura o rutilar da Crença
e Deus – seu foco – se extinguiu também!

(Autor: Medeiros e Albuquerque)

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