UMA NÉVOA DE OUTONO O AR RARO VELA

Uma névoa de Outono o ar raro vela,
Cores de meia-cor pairam no céu.
O que indistintamente se revela,
Árvores, casas, montes, nada é meu.

Sim, vejo-o, e pela vista sou seu dono.
Sim, sinto-o eu pelo coração, o como.
Mas entre mim e ver há um grande sono.
De sentir é só a janela a que eu assomo.

Amanhã, se estiver um dia igual,
Mas se for outro, porque é amanhã,
Terei outra verdade, universal,
E será como esta [...]

(Autor: Fernando Pessoa)

  

  

 

 


 

segunda-feira, 3 de setembro de 2012

A Donzelinha Voadora


Uma pétala de jasmin
pela brisa alcançada
ou uma ipomea
entre a amaryllis
e a dama da noite, excitada?
Não, não,absolutamente,
uma flor, mas uma borboleta,
exibindo-se, branca,
contra o verde de uma folha,
de repente.
E aquele azul ali, ora cobalto,
iridescente, então,
frágil como um broche de uma dama,
sobre o nastúrcio pairando?
Ah, dizem-me os antigos poetas,
aquela é uma donzelinha voadora.
E se você se acalmasse
e olhasse, veria
toda sorte de coisas:
manhã em meio curso, em direção
ao término do verão,
a cabeça, após uma rápida chuva-surpresa,
nadando no perfume do jardim.

(Autor: August Kleinzahler - Tradução de Fernando Campanella)

Nenhum comentário: