sábado, 18 de agosto de 2012

Monólogo da noite



Esta noite estou triste e não sei a razão.
Vou, para espairecer minha melancolia,

Ouvir o mar, que o mar é uma consolação.

Paro junto do cais olhando a água sombria.

Intermitente, sob o véu da cerração,

Vejo uma luz vermelha a acenar-me... "Confia!"

Obrigado, farol que és como um coração...
A água negra, noturna, a bater contra o cais,
Ilude a minha dor fútil de vagabundo.

E o farol a acenar de longe... "Espera mais!"

Recordo... "Antônio, que o paquete fosse ao fundo!"

Depois, fico a pensar nos que foram leais,

Nos que tiveram a coragem de ir do mundo

E numa noite assim se atiraram do cais.
Água eterna... água terrível... água imortal...
Apavora-me a sua aparência sombria.

Se eu pudesse acabar de uma vez o meu mal!

Mas tenho medo. "Não... A água está muito fria.

Além de fria é funda e tem gosto de sal."

E surpreendo-me, a chorar de covardia,

Dizendo ao vento esse monólogo banal.
(Autor: Riberio Couto)

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