domingo, 20 de maio de 2012

Pus o meu sonho num navio

Pus o meu sonho num navio
 e o navio em cima do mar;
 depois abri o mar com as mãos,
para o meu sonho naufragar.

 Minhas mãos ainda estão molhadas
 do azul das ondas entreabertas,
e a cor que escorre dos meus dedos
colore as areias desertas

O vento vem vindo de longe,
a noite se curva de frio;
debaixo da água vai morrendo
 meu sonho dentro de um navio... 

Chorarei quanto for preciso,
 para fazer com que o mar cresça,
 e o meu navio chegue ao fundo 
e o meu sonho desapareça. 

 Depois, tudo estará perfeito:
 praia lisa, águas ordenadas, 
meus olhos secos como pedras 
e as minhas duas mãos quebradas.
(Autora: Cecília Meireles)

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