UMA NÉVOA DE OUTONO O AR RARO VELA

Uma névoa de Outono o ar raro vela,
Cores de meia-cor pairam no céu.
O que indistintamente se revela,
Árvores, casas, montes, nada é meu.

Sim, vejo-o, e pela vista sou seu dono.
Sim, sinto-o eu pelo coração, o como.
Mas entre mim e ver há um grande sono.
De sentir é só a janela a que eu assomo.

Amanhã, se estiver um dia igual,
Mas se for outro, porque é amanhã,
Terei outra verdade, universal,
E será como esta [...]

(Autor: Fernando Pessoa)

  

  

 

 


 

quinta-feira, 10 de maio de 2012

Precisão



O que me tranqüiliza 
é que tudo o que existe,
 existe com uma precisão absoluta. 
O que for do tamanho de uma cabeça de alfinete
 não transborda nem uma fração de milímetro 
além do tamanho de uma cabeça de alfinete. 
 Tudo o que existe é de uma grande exatidão. 
Pena é que a maior parte do que existe
 com essa exatidão nos é tecnicamente invisível.
 O bom é que a verdade chega a nós 
como um sentido secreto das coisas. 
Nós terminamos adivinhando, 
confusos, a perfeição.

(Autora: Clarice Lispector)

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