UMA NÉVOA DE OUTONO O AR RARO VELA

Uma névoa de Outono o ar raro vela,
Cores de meia-cor pairam no céu.
O que indistintamente se revela,
Árvores, casas, montes, nada é meu.

Sim, vejo-o, e pela vista sou seu dono.
Sim, sinto-o eu pelo coração, o como.
Mas entre mim e ver há um grande sono.
De sentir é só a janela a que eu assomo.

Amanhã, se estiver um dia igual,
Mas se for outro, porque é amanhã,
Terei outra verdade, universal,
E será como esta [...]

(Autor: Fernando Pessoa)

  

  

 

 


 

domingo, 6 de maio de 2012

Alguém como Eu



Entra, Mestre,
Descansa um pouco:
Estás cansado,
Estás sedento
E rouco...

Dorme, Mestre,
A casa é Tua:
Já fechei porta
E janela
Pra rua...

Deixou-me falando só;
Dormiu tão pesado,
Fazia dó...
Como será, Mestre,
Este sonho Teu?
Sonhas como homem,
Sonhas como Deus?
Sonhas com a glória
Que tinhas com o Pai, na luz?

Ou sonhas com a cruz?

Perdoa, Mestre,
Mas já é hora:
Uma multidão
Te espera,
Lá fora...

Estás decidido,
Não Te detenho:
Vais curando
Até chegar
Ao lenho...

Partiu, fica a paz em mim:
Fica a sala
Com cheiro de jasmim...
Vai verter a vida
Do corpo Seu,
Pra levar a culpa
De alguém como eu;
Pra lavar o sujo
Do meu próprio eu:
Levar-me puro
A Deus.

(Autor: Stenio Marcius)

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