UMA NÉVOA DE OUTONO O AR RARO VELA

Uma névoa de Outono o ar raro vela,
Cores de meia-cor pairam no céu.
O que indistintamente se revela,
Árvores, casas, montes, nada é meu.

Sim, vejo-o, e pela vista sou seu dono.
Sim, sinto-o eu pelo coração, o como.
Mas entre mim e ver há um grande sono.
De sentir é só a janela a que eu assomo.

Amanhã, se estiver um dia igual,
Mas se for outro, porque é amanhã,
Terei outra verdade, universal,
E será como esta [...]

(Autor: Fernando Pessoa)

  

  

 

 


 

quarta-feira, 7 de março de 2012

Noite solitária



A noite é um véu escuro
que encobre a claridade macia
torna-se quase um muro
impedindo a dádiva do dia

E como tudo encoberto é misterioso
existem coisas que devo ressaltar
na noite tudo pode ser odioso
ou tudo pode se amar

Noite fria, noite dia, notche mia, noite, noite, noite...

Quase sempre é assim
martírios, eterna repetição
noites que provocam dentro de mim
fonte enorme de solidão

Solidão não é estar simplesmente sozinho
porque podemos estar sós no meio de uma multidão
solidão é um estado estranho
que mostra o vazio do próprio coração

Talvez a noite grandiosa dos boêmios
ou a noite alegre dos festivos
sejam apenas ilusões a circundá-los
sem temas ou motivos

Mas, mesmo assim não consigo
ver na noite seu lado alegre
período extenso e dolorido
tortura longa, mesmo sendo breve

Noite, solitária, escura e impiedosa
torturante fim da luz, presente grandioso
que fere até que surja milagrosa
a aurora de um novo dia, maravilhoso.

(Autor: Felipe Neves)

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