UMA NÉVOA DE OUTONO O AR RARO VELA

Uma névoa de Outono o ar raro vela,
Cores de meia-cor pairam no céu.
O que indistintamente se revela,
Árvores, casas, montes, nada é meu.

Sim, vejo-o, e pela vista sou seu dono.
Sim, sinto-o eu pelo coração, o como.
Mas entre mim e ver há um grande sono.
De sentir é só a janela a que eu assomo.

Amanhã, se estiver um dia igual,
Mas se for outro, porque é amanhã,
Terei outra verdade, universal,
E será como esta [...]

(Autor: Fernando Pessoa)

  

  

 

 


 

terça-feira, 6 de setembro de 2011

Recolhe-te em ti mesmo e observa


E se achas que
ainda não és belo, faze
o que faz o criador
de uma estátua que deve
ser bela. Ele corta aqui e ali, alisa acolá,
torna uma linha mais leve, uma outra
mais pura, até que na estátua
surge um belo rosto. Faze o
mesmo: corta o excesso,
endireita o que está
torto, leva luz ao
que está
sombrio, trabalha para fazer
com que tudo resplandeça
em beleza, e não cesses
de cinzelar a tua
estátua até que
ela desprenda sobre
ti o divino esplendor
da virtude, até
que vejas a
bondade final
estabelecida com
firmeza no santuário
sem mácula.
 
(Autor: Plotino)

Nenhum comentário: