UMA NÉVOA DE OUTONO O AR RARO VELA

Uma névoa de Outono o ar raro vela,
Cores de meia-cor pairam no céu.
O que indistintamente se revela,
Árvores, casas, montes, nada é meu.

Sim, vejo-o, e pela vista sou seu dono.
Sim, sinto-o eu pelo coração, o como.
Mas entre mim e ver há um grande sono.
De sentir é só a janela a que eu assomo.

Amanhã, se estiver um dia igual,
Mas se for outro, porque é amanhã,
Terei outra verdade, universal,
E será como esta [...]

(Autor: Fernando Pessoa)

  

  

 

 


 

quarta-feira, 2 de março de 2011

Deus


Um Deus (diz), um Tupá, um ser possante
Quem poderá negar que reja o mundo,
Ou vendo a nuvem fulminar tonante,
Ou vendo enfurecer-se o mar profundo?
Quem enche o céu de tanta luz brilhante?
Quem borda a terra de um matiz fecundo?
E aquela sala azul, vasta, infinita,
Se não está lá Tupá, quem é que a habita?

A chuva, a neve, o vento, a tempestade,
Quem a rege? a quem segue? ou quem a move?
Quem nos derrama a bela claridade?
Quem tantas trevas sobre o mundo chove?
E este espírito amante da verdade,
Inimigo do mal, que o bem promove,
Coisa tão grande, como fora obrada?
Se não lhes dera o ser, quem vence o nada?

Quem seja este grande Ente e qual seu nome,
(Feliz quem saber pode) Eu cego o ignoro;
E sem que a empresa de sabê-lo tome,
Sei quem é quem tudo faz, e humilde o adoro:
Nem duvido que os céus e trevas dome,
Quando nas nuvens com terror o exploro,
Deixando o mortal peito em vil desmaio
Ameaçar no trovão, punir no raio.

(Autor:  Frei José de Santa Rita Durão)

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