UMA NÉVOA DE OUTONO O AR RARO VELA

Uma névoa de Outono o ar raro vela,
Cores de meia-cor pairam no céu.
O que indistintamente se revela,
Árvores, casas, montes, nada é meu.

Sim, vejo-o, e pela vista sou seu dono.
Sim, sinto-o eu pelo coração, o como.
Mas entre mim e ver há um grande sono.
De sentir é só a janela a que eu assomo.

Amanhã, se estiver um dia igual,
Mas se for outro, porque é amanhã,
Terei outra verdade, universal,
E será como esta [...]

(Autor: Fernando Pessoa)

  

  

 

 


 

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

Sem Métrica


E o Sol disse, melancólico, à Lua:
- Jamais estamos juntos, em um mesmo lugar.
Pouco nos vemos; sempre vou antes do seu raiar.
Sucessivamente você chega e não posso ficar.
Quando vou ter, para sempre, a presença sua?
Resignada, põe-se a dizer ela ao Sol:
- Altaneiro, devaneia sob seu brilho, desvairado.
Não vê que, continuamente, passo noites em claro
para andar poucas horas do dia a seu lado.
Brilho, mas de dor, quando some no arrebol.
Assim, em torno do adequado eixo nosso,
giramos, eclípticos, qual satélite de nós próprios.
Sem luz ou brilho que nos projete, sóbrios,
surgimos e sumimos no horizonte, em lado contrário
de quem nos segue em estratosférico esforço.

(Autor: Ari Donato)

Nenhum comentário: