UMA NÉVOA DE OUTONO O AR RARO VELA

Uma névoa de Outono o ar raro vela,
Cores de meia-cor pairam no céu.
O que indistintamente se revela,
Árvores, casas, montes, nada é meu.

Sim, vejo-o, e pela vista sou seu dono.
Sim, sinto-o eu pelo coração, o como.
Mas entre mim e ver há um grande sono.
De sentir é só a janela a que eu assomo.

Amanhã, se estiver um dia igual,
Mas se for outro, porque é amanhã,
Terei outra verdade, universal,
E será como esta [...]

(Autor: Fernando Pessoa)

  

  

 

 


 

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Talvez eu saiba


Às vezes,
 as dores da vida,
as mágoas do peito
por amor desfeito,
a lágrima sentida,
a vontade reprimida,
o sonho que acaba,
a família que desaba,
o vazio da solidão,
a perda do irmão,
a compreensão que não se tem
na incompatibilidade com alguém,
a sensação de que estamos sem chão,
o vazio que a dor provoca no coração
fazem parte do livro da nossa história
e são as páginas negras que a memória
teima em reter.

Parece que o homem
gosta de sofrer.
Em contrapartida,
cura-se a ferida
tentando lembrar
o sorriso que se deu,
o amor que se viveu,
as músicas que se cantou,
os ritmos que se dançou,
os amigos de verdade,
os efeitos da bondade,
os versos que se escreveu,
o beijo gostoso que se recebeu...
Isso é a vida!
E no livro que a conta
sempre uma nova história desponta.
Tinja de azul a luz que ainda brilha
e de rosa os passos que trilha
e verá que nas páginas das demais cores
encontrará a paz para os seus dissabores.

 
(Autora: Cleide Canton Garcia)

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