UMA NÉVOA DE OUTONO O AR RARO VELA

Uma névoa de Outono o ar raro vela,
Cores de meia-cor pairam no céu.
O que indistintamente se revela,
Árvores, casas, montes, nada é meu.

Sim, vejo-o, e pela vista sou seu dono.
Sim, sinto-o eu pelo coração, o como.
Mas entre mim e ver há um grande sono.
De sentir é só a janela a que eu assomo.

Amanhã, se estiver um dia igual,
Mas se for outro, porque é amanhã,
Terei outra verdade, universal,
E será como esta [...]

(Autor: Fernando Pessoa)

  

  

 

 


 

domingo, 14 de novembro de 2010

Ser e Não Ser


Se te procuro, fujo de avistar-te,
e, se te quero, evito mais querer-te;
desejo quase... quase aborrecer-te,
e, se te fujo, estás em toda parte.

Distante, corro logo a procurar-te,
e perco a voz e fico mudo, ao ver-te;
se me lembro de ti, tento esquecer-te,
e, se te esqueço, cuido mais amar-te.

O pensamento assim partido ao meio,
e o coração assim também partido,
chamo-te e fujo, quero-te e receio!

Morto por ti, eu vivo dividido;
entre o meu e o teu ser sinto-me alheio,
e, sem saber de mim, vivo perdido!

(Autor: José Bonifácio de Andrada e Silva)

Nenhum comentário: