quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Terra

Terra antiqüíssima tão só
no escuro túnel de milênios
que te desmembraste do sol
por uma aspiração extrema.
Ardente de erosões, fogosa
de vulcões de cinzas de lavas
movente sem base nem topo
talvez pela fome do lar
giras em torno do teu deus.
Terra suspensa dos espaços
imaginas que sejam teus
os astros em afluência prontos
para a decoração das noites.
Em gravitação te equilibras
por fatalidade ou magia.
Contudo já não és a mesma
tantas vezes desmoronaram
tuas montanhas, tantas vezes
estremeceram os teus vales
em invento e composição.
Terra humana de areia e argila
exposta à intempérie. E à premência
do homem que a carne te lacera
para defender seu quinhão.
Por certo ele aprendeu contigo
o exercício criador de formas
em modelos que se renovam
com seus êxitos e deslizes.
Maravilhou-se com a clivagem
dos teus cristais de faces múltiplas.
Ofuscou-se diante da alvura
alma e corpo dos alabastros.
Perdeu-se de si próprio em busca
de ouro ferro petróleo urânio.
Entre os lavores e a lavoura
o homem te ama de amor insano
pleno de luxúria e cobiça.
Mas ao desconserto resistes.
E nos ardores da defesa
aniquilas o aventureiro
que ainda cinzela de teus mármores
o hipogeu para o sono intérmino.
Por fim os pés que te pisaram
repousaram sob tua égide.

(Autora: Henriqueta Lisboa)

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