quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Eu...

Eu, alquimista de mim mesmo.
Sou um homem que se devora?
Não é que vivo em eterna mutação,
com novas adaptações a meu renovado viver
e nunca chego ao fim de cada um dos modos de existir.
Vivo de esboços não acabados e vacilantes.
Mas equilibro-me como posso, entre mim e eu,
entre mim e os homens, entre mim e o Deus.
É curioso como não sei dizer quem sou.
Quer dizer, sei-o bem, mas não posso dizer.
Sobretudo tenho medo de dizer
porque no momento em que tento
falar não só não exprimo o que sinto
como o que sinto se transforma lentamente no que eu digo.

(Autora: Clarice Lispector)

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