UMA NÉVOA DE OUTONO O AR RARO VELA

Uma névoa de Outono o ar raro vela,
Cores de meia-cor pairam no céu.
O que indistintamente se revela,
Árvores, casas, montes, nada é meu.

Sim, vejo-o, e pela vista sou seu dono.
Sim, sinto-o eu pelo coração, o como.
Mas entre mim e ver há um grande sono.
De sentir é só a janela a que eu assomo.

Amanhã, se estiver um dia igual,
Mas se for outro, porque é amanhã,
Terei outra verdade, universal,
E será como esta [...]

(Autor: Fernando Pessoa)

  

  

 

 


 

sábado, 3 de julho de 2010

Solistício de Inverno

Esta é a noite mais longa do ano, o sol está no menor grau da sua deslocação pela esfera celeste e já iniciou a sua subida desde o dia 21 de Junho.

Este é um dia de especial celebração para muitas religiões pagãs e com calendário agrícola. Em termos simbólicos esta é uma noite muito especial e querida para a humanidade, ela representa a renovação da vida, pelo crescimento do número de horas de luz que se dá a partir deste preciso momento do ano. Em muitas culturas os deuses regressam do retiro invernal ou nascem deuses-criança que representam a esperança na renovação solar. Não é de estranhar então que a Igreja Cristã tenha escolhido esta época do ano para o nascimento de Cristo, já que como salvador e messias representa a esperança de toda uma fé numa nova e melhor era.

Nas tradições pagãs baseadas num conceito de divindade dupla, como as originais tradições europeias anteriores ainda aos panteões de deuses, o Deus renasce pela graça da Deusa. Nesta data honra-se a Deusa Mãe que dá à luz o seu filho, o Sol. No sistema de dualidade o Deus é imortal, apesar de morrer todos os anos, volta a renascer ciclicamente na noite do Solstício de Inverno.

É tempo de festas de comemoração e incentivo a esse renascimento, nesta época decoram-se as habitações com árvores e plantas persistentes, como os pinheiros, e acendem-se lareiras que devem ser mantidas acesas durante certo tempo, o tronco de Yule. O verde e o vermelho, assim como dourado, são as cores principais nas decorações. Muitas destas tradições antigas persistem mesmo nas comunidades cristãs: todos têm uma árvore de natal em casa, sempre um pinheiro, decorada com bolas douradas e vermelhas, no essencial, os presépios têm sempre musgo, mais uma planta perene, os doces de natal incluem o tronco de natal…

O solstício de Inverno, Yule para os puristas, parece ser universal e consensual, pelo menos na Europa, embora sob diferentes nomes. Nesta época, aparte as divergências religiosas, todos celebram o regresso, embora ainda tímido da luz e do calor, essenciais à vida dos homens de qualquer credo. Hoje, o lugar das luzes é na árvore de natal, no entanto, para os ritos pagãos há lugar a uma fogueira no exterior e danças para celebrar esta época de renascimento.

Em termos estritamente simbólicos, a árvore persistente representa a resistência da vida, que “teima” em sobreviver aos desafios do Inverno físico ou espiritual, representa a fertilidade contínua da terra. A cor verde, por excelência apanágio das plantes viçosas, é mais um símbolo da resistência e da capacidade de renascer e persistir perante as adversidades. O vermelho estabelece a ligação com a vida, é a cor do sangue, pois a vida é enumeras vezes simbolizada pelo líquido vital. O fogo permanente nas lareiras é mais um símbolo de tenacidade e resistência, para além de representar um foco de luz, simbologia de esperança em dias melhores e mais luminosos.

Numa palavra: Yule, Natal, Solstício de Inverno, o que lhe quisermos chamar, é tempo de Renascimento.

(Autora: Lady Evyan)

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