UMA NÉVOA DE OUTONO O AR RARO VELA

Uma névoa de Outono o ar raro vela,
Cores de meia-cor pairam no céu.
O que indistintamente se revela,
Árvores, casas, montes, nada é meu.

Sim, vejo-o, e pela vista sou seu dono.
Sim, sinto-o eu pelo coração, o como.
Mas entre mim e ver há um grande sono.
De sentir é só a janela a que eu assomo.

Amanhã, se estiver um dia igual,
Mas se for outro, porque é amanhã,
Terei outra verdade, universal,
E será como esta [...]

(Autor: Fernando Pessoa)

  

  

 

 


 

segunda-feira, 3 de maio de 2010

Ariel

Estancamento no escuro.
Então um azul sem substância
De penhascos e distâncias.

Leoa de Deus,
Crescemos como tal,
Pivô de calcanhares e joelhos! - O sulco

Divide e passa, irmã do
Arco castanho
Do pescoço que não posso abraçar,

Olhos negros
Sementes forjam escuros
anzois...

Goles de sangue negro e doce,
Sombras.
Algo mais

Arrasta-me pelo ar -
Coxas, cabelos;
Lascas de meus calcanhares.

Branca
Godiva, descasco -
Mãos mortas, necessidades mortas.

E agora eu
Espuma ao trigo, um brilho de mares.
O choro da criança

Derrete-se na parede
E eu
Sou a flexa,

Orvalho que voa,
Suicida, que se lança
Dentro do vermelho

Olho, o caldeirão da manhã.

(Autora: Sylvia Plath)

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