
Category: Books
Genre: Literature & Fiction
Author: Bernhard Schlink
O Leitor de Bernhard Schlink foi lançado em 1995 e alcançou relevo ao ser adaptado para o cinema em 2008. Fiquei bem impressionada com a obra de Schlink, sobretudo, com sua prosa simples ao tratar de temas complexos e profundos como a culpa e a responsabilidade em um contexto pós-guerra.
O autor vai além da visão, por vezes, maniqueísta do que foi o cenário do holocausto. E revela originalidade ao confrontar a geração da guerra com a geração pós-guerra, evidenciando a profunda falta de entendimento entre essas duas partes.
Amor, vergonha, culpa, sexo e moral, todos esses temas aparecem e assumem o escopo central e a razão de ser da história a nós descortinada pela relação entre um jovem de 15 anos e uma mulher de 36. Uma relação em que não basta tornar manifesta a desigualdade óbvia da idade. È bem mais que isso. E com o passar do tempo cronológico que corre e organiza os fatos da trama, a idade torna-se irrelevante. Muito mais instigante é a desigualdade que se expressa no nível social. Em que pese a natureza de ambos os personagens e a época em que viviam, é uma diferença menos óbvia por aparecer camuflada na ingenuidade peculiar de alguém com quinze anos vivendo o limiar das descobertas e na sabedoria própria de quem, com 36 anos, supostamente já experimentou diversas mudanças na vida. Nada é tão somente preto no branco, a narrativa nos diz.
Trata-se de um livro cuja leitura não pode prescindir do olhar atento que busque, palavra por palavra, indícios reveladores do mistério de Hanna. E quando conseguimos encaixar as peças cada uma em seu lugar, vem o choque por saber-nos juízes implacáveis de uma Hanna vista na superfície. E a beleza da história consiste em, junto com Michael Berg, descobrir quem é Hanna. E assim como ele, estarrecidos, constatarmos que nunca a enxergamos tal como era.
O que a levava ser como era? Quem é Hanna? A controladora que decide a natureza do encontro entre os dois marcado, sobretudo, pelo acentuado componente sexual? A metódica que insiste na rotina tríade de banho, sexo e leitura? A que se mostra estóica, até mesmo arrogante, perante o tribunal? Existem tantas perguntas relacionadas à Hanna e que, no momento, não posso tecê-las sob pena de contar a trama além do devido e estragar a surpresa. Mas, a descoberta de quem é Hanna é uma das coisas mais lindas que pude vivenciar em uma leitura.
O livro é narrado em primeira pessoa como se quisesse ser lido em voz alta. Como se déssemos voz à confusão, curiosidade, descobertas, despertares, revelações e às perguntas retóricas que Michael Berg, o leitor e o narrador não por acaso, tece o tempo todo. E essa é a natureza constitutiva do texto de Bernhard Schlink; a de possibilitar que eu incorpore as vivências de Michael e Hanna, que eu seja eles pelo breve tempo do enquanto durar a leitura. E ao seu término, sem deixar de ser eu mesma, descubro-me alimentada n’alma e intelectualmente. E assim, eu, a leitora, através de tantas leituras já feitas posso dar sentido ao que vivi e tenho ainda por viver.
O exercício da empatia parece ser a escolha adequada e criativamente pensada para estabelecer a analogia da relação de amor entre Michael e Hanna com o amor nutrido pelos alemães da geração pós-guerra por seu país. Como amar alguém que cometeu a maior atrocidade que o mundo já conheceu? Eis a pergunta disposta na orelha do livro. De modo que um livro como esse é para ser lido de maneira cuidadosa e refletida.
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