UMA NÉVOA DE OUTONO O AR RARO VELA

Uma névoa de Outono o ar raro vela,
Cores de meia-cor pairam no céu.
O que indistintamente se revela,
Árvores, casas, montes, nada é meu.

Sim, vejo-o, e pela vista sou seu dono.
Sim, sinto-o eu pelo coração, o como.
Mas entre mim e ver há um grande sono.
De sentir é só a janela a que eu assomo.

Amanhã, se estiver um dia igual,
Mas se for outro, porque é amanhã,
Terei outra verdade, universal,
E será como esta [...]

(Autor: Fernando Pessoa)

  

  

 

 


 

quarta-feira, 31 de outubro de 2012

Bruxas da Poesia



Somos bruxas, somos fadas
Somos moças encantadas
Enamoradas
Da lua
Do sol
Da Natureza
Fazemos feitiço
Fazemos rebuliço
Com nosso caldeirão
Fazemos magia
Prendemos corações dispersos
Com nossa inspiração
Transformamos palavras em poesia
Com nossa magia
Fazemos fantasia
Levamos qualquer um a viagens inesquecíveis
Somos mulheres apaixonadas
Que atiçam
Enfeitiçam
Que cantam
E encantam
Somos mulheres que seduzem
Somos sombra, somos luzes
Somos o que queremos ser
Somos mulheres
Seres viventes
Amantes
Feiticeiras do amor
Nosso feitiço aprisona
A quem quer nos dominar
Prendendo outros coração aos nossos
Somos bruxas das palavras
Das trovas e versos
Somos fadas e magas
Da magia e inspiração
Só não gostamos de solidão. 
(Autora: Helena Serena)

Oração de Proteção



Noites estreladas e
dia brilhante,
nos proteja e abençoe,
Aqui estamos neste espaço.
Que aqueles que amamos
reúnam-se em força,
E unifiquem em tempos de conflitos.
Apelamos ao Cosmos do qual fazemos parte,
Que possamos fluir com você
e fazer de cada dia um começo.
Ventos da noite,
Soprem suavemente em todos nós.
Águas do mar,
Permita-nos banhar
na sua cura profunda.
Fogos da terra,
Nos aqueçam, sem danos.
Traga energia e não
desastre.
Terra sob nossos pés,
Mantenha-se sólida e verdadeira,
À medida que caminhamos pela vida.
Que possamos ter concedida
As bênçãos da longa vida.
Que os céus sorriam acima de nós,
Todos os dias.
Que a sabedoria dos antigos,
Visite-nos em nossos sonhos,
E preencha o nosso tempo de vigília.
Pela força do urso,
Que haja força em nossas ações.
Pela visão do falcão,
Que a nossa visão seja sempre afiada
Pela graça do gato,
Que nossos corpos e
espíritos sejam ágeis.
Está concedido,
Assim seja.

(Autor Desconhecido)

31 de Outubro - Celebre o Dia das Bruxas!

Venha conhecer o Mundo das Bruxinhas!

Que susto!

Sou uma Bruxinha do Bem!

Tenha um dia "monstruoso" de bom!

segunda-feira, 29 de outubro de 2012

Como uma flor vermelha


À sua passagem a noite é vermelha,
E a vida que temos parece
Exausta, inútil, alheia.

Ninguém sabe onde vai nem donde vem,
Mas o eco dos seus passos
Enche o ar de caminhos e de espaços
E acorda as ruas mortas.

Então o mistério das coisas estremece
E o desconhecido cresce
Como uma flor vermelha.

(Autora: Sophia de Mello Breyner Andresen)

Febre


Derramarei na taça ardente
Os sonhos, a morte, a vida
Mil pensamentos perdidos
Mil ecos e canções tristes
A juventude esquecida.

Derramarei na taça quente
O veneno mortal das serpentes
Ou o néctar fresco das flores?

Qual poção mágica e fria
Refrescará a dor latente?
Que caminhos entrelaçados
Conduzirão, inexoráveis
A beber do amor fervente?

Talvez o sono seja o meu socorro.
E, então, consiga repousar
O coração que sente
Tanto, tanto
Que , quem sabe arrebente
Ao sorver da taça ardente.

(Autora: Vera Muniz)

Soneto de Indagação


Será tarde, Senhora, será tarde?
A vida, igual ao dia, encontra ocaso.
Termina, pouco a pouco, o nosso prazo
E o frio olhar da morte já nos carde.

Que tua luz me salve ou me resguarde.
Tuas chamas me queimam. Já me abraso.
Estamos bem além de um simples caso.
A alma, outrora errante, em ânsias arde.

Tenho estranho fulgor de adolescência,
Mas, ao notar que tudo pede urgência,
Sinto que amar me traz um certo alarde.

E ao ver o tempo inexorável, lento,
Escravo de teu grande encantamento
Aflito te pergunto – será tarde?

(Autor: Artur Eduardo Benevides)

Soneto do Coração Destruído


Havia um coração a ser construído
pelos cantos do mundo sacudido
havia uma paixão despedaçada
pelo choro do mar atravessada

Havia um sono sempre soluçado
e um copo d’água nunca derramado
e uma rua de sol sempre banhada
e uma noite de lua inacabada

Havia um ser de pregos trespassado
e uma clareira em meio ao mar irado
e um grito por espasmos dividido

E nos espinhos rosa concentrada
e nos passeios rosa desfolhada

e nas esquinas coração destruído.

(Autor: Odylo Costa Filho)

Canção de Insônia

Na longa noite de insônia penso em ti:
meu amor se fez infantil e necessitado,
com a sofreguidão dos recém-nascidos.

Cada lembrança é uma emboscada
e a própria pele é um tecido
de minuciosas recordações.

Na longa noite de insônia,
escrever teu nome não traz sono,
mas descansa:
a saudade se deita na terra, quieta ao vento,
como quem se estende no campo, sob as estrelas.

(Autor: Odylo Costa Filho)

As Aquarelas


Não penso azul, nem verde, nem vermelho,
nenhuma cor vejo isoladamente:
quero a vida total, como um espelho
a que não falte flor, folha ou semente.

A natureza, neste abril redondo,
esconde formas, seres, linhas, cores,
aqui e ali bizarramente pondo
manchas involuntárias, multicores.

Recuso-me a adotar bandeira ou marca.
Nada escolho. O mistério natural
me envolve inteiro. Em tuas aquarelas

tudo renasce — como quem da barca
do dilúvio, depois do temporal,
visse de novo a terra das janelas...

(Autor: Odylo Costa Filho)

Contraste


Quando partimos no verdor dos anos,
Da vida pela estrada florescente,
As esperanças vão conosco à frente,
E vão ficando atrás os desenganos.

Rindo e cantando, célebres, ufanos,
Vamos marchando descuidosamente;
Eis que chega a velhice, de repente,
Desfazendo ilusões, matando enganos.

Então, nós enxergamos claramente
Como a existência é rápida e falaz,
E vemos que sucede, exatamente,

O contrário dos tempos de rapaz:
– Os desenganos vão conosco à frente,
E as esperanças vão ficando atrás.

(Autor: Pe Antônio Thomaz)

Moro entre o dia e o sonho


 Moro entre o dia e o sonho.
Onde cochilam crianças, quentes da correria.
Onde velhos para a noite sentam
e lareiras iluminam e aquecem o lugar.

Moro entre o dia e o sonho.
Onde tocam claros sinos vesperais
e meninas, perdidas da confusão,
descansam à boca do poço.

E uma tília é minha árvore querida;
e todos os verões que nela se calam
movem outra vez os mil galhos,
e acordam de novo entre o dia e o sonho.

(Autora: Rainer Maria Rilke)

Não deves entender a vida



Não deves entender a vida,
seria então como uma festa.
Deixe que cada dia aconteça,
como uma criança que passa
e a cada dor
com muitas pétalas se presenteia.

Juntá-las e guardá-las
para a criança não tem sentido.
Retira-as suavemente dos cabelos,
onde tão facilmente se prenderam,
retoma os jovens e amados anos
de novo em suas mãos.

(Autora: Rainer Maria Rilke)