UMA NÉVOA DE OUTONO O AR RARO VELA

Uma névoa de Outono o ar raro vela,
Cores de meia-cor pairam no céu.
O que indistintamente se revela,
Árvores, casas, montes, nada é meu.

Sim, vejo-o, e pela vista sou seu dono.
Sim, sinto-o eu pelo coração, o como.
Mas entre mim e ver há um grande sono.
De sentir é só a janela a que eu assomo.

Amanhã, se estiver um dia igual,
Mas se for outro, porque é amanhã,
Terei outra verdade, universal,
E será como esta [...]

(Autor: Fernando Pessoa)

  

  

 

 


 

sábado, 4 de setembro de 2010

Quebra cabeça da vida...


Não passam as dores,
também não passam as alegrias.
Tudo o que nos fez feliz ou infeliz
serve para montar o quebra-cabeças da nossa
vida, um quebra-cabeças de cem mil peças.
Aquela noite que você não conseguiu parar de
chorar, aquele dia que você ficou caminhando
sem saber para onde ir, aquele beijo
cinematográfico que você recebeu, aquela visita
surpresa que ela lhe fez, o parto do seu filho, a
bronca do seu pai, a demissão injusta, o acidente
que lhe deixou cicatrizes, tudo isso vai, aos
pouquinhos, formando quem você é.
Não tem nenuma peça que não se encaixe.
Todas são aproveitáveis. Como são muitas,
você pode esquecer de algumas, e a isso
chamamos de passado.
Não passou. Está lá dentro, meio perdida, mas
quando você menor esperar, ela será necessária
para você completar o jogo e se enxergar por
inteiro.

(Autora: Martha Medeiros)

Nenhum comentário: