UMA NÉVOA DE OUTONO O AR RARO VELA

Uma névoa de Outono o ar raro vela,
Cores de meia-cor pairam no céu.
O que indistintamente se revela,
Árvores, casas, montes, nada é meu.

Sim, vejo-o, e pela vista sou seu dono.
Sim, sinto-o eu pelo coração, o como.
Mas entre mim e ver há um grande sono.
De sentir é só a janela a que eu assomo.

Amanhã, se estiver um dia igual,
Mas se for outro, porque é amanhã,
Terei outra verdade, universal,
E será como esta [...]

(Autor: Fernando Pessoa)

  

  

 

 


 

domingo, 10 de janeiro de 2010

Somos assim...

Sonhamos o vôo
mas tememos a altura.
Para voar é preciso ter coragem
para enfrentaro terror do vazio.
Por que é só no vazio
que o vôo acontece.
O vazio é o espaço da liberdade,
a ausência de certezas.
Por isso trocamos o
VÔO por GAIOLAS.
As gaiolas são o lugar onde
as certezas moram.
É um engano pensar
que os homens seriam livres
se pudessem,
que eles não são livres porque
um estranho os engaiolou,
que eles voariam se
as portas estivessem abertas.
A VERDADE é o oposto.
Não há carcereiros.
Os homens preferem
as gaiolas
aos vôos.
São eles mesmos que
CONSTROEM
as gaiolas
em que se
aprisionam...

(Autor: Rubem Alves)

Nenhum comentário: