UMA NÉVOA DE OUTONO O AR RARO VELA

Uma névoa de Outono o ar raro vela,
Cores de meia-cor pairam no céu.
O que indistintamente se revela,
Árvores, casas, montes, nada é meu.

Sim, vejo-o, e pela vista sou seu dono.
Sim, sinto-o eu pelo coração, o como.
Mas entre mim e ver há um grande sono.
De sentir é só a janela a que eu assomo.

Amanhã, se estiver um dia igual,
Mas se for outro, porque é amanhã,
Terei outra verdade, universal,
E será como esta [...]

(Autor: Fernando Pessoa)

  

  

 

 


 

sábado, 30 de janeiro de 2010

Seus olhos

Seus olhos - se eu sei pintar
o que os meus olhos cegou -
não tinham luz de brilhar,
era chama de queimar;
e o fogo que a ateou
vivaz, eterno, divino,
como o facho do Destino.

Divino, eterno! - e suave
ao mesmo tempo: mas grave
e de tão fatal poder,
que, num só momento que a vi,
queimar toda a alma senti...
Nem ficou mais do meu ser,
senão a cinza em que ardi.

(Autor: Almeida Garrett)

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