UMA NÉVOA DE OUTONO O AR RARO VELA

Uma névoa de Outono o ar raro vela,
Cores de meia-cor pairam no céu.
O que indistintamente se revela,
Árvores, casas, montes, nada é meu.

Sim, vejo-o, e pela vista sou seu dono.
Sim, sinto-o eu pelo coração, o como.
Mas entre mim e ver há um grande sono.
De sentir é só a janela a que eu assomo.

Amanhã, se estiver um dia igual,
Mas se for outro, porque é amanhã,
Terei outra verdade, universal,
E será como esta [...]

(Autor: Fernando Pessoa)

  

  

 

 


 

quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

Pensamentos

Odeio seguir alguém, como também conduzir.
Obedecer? Não!
E governar, nunca!
Quem não se mete medo não consegue metê-lo a ninguém.
Somente aquele que o inspira é capaz de comandar.
Já detesto comandar a mim mesmo!
Gosto, como os animais, das florestas e dos mares,
De me perder durante um tempo,
Permanecer a sonhar num recanto encantador,
E forçar-me a regressar de longe ao meu lar,
Atrair-me a mim próprio... de volta para mim.
Creio que aqueles que mais entendem de felicidade
são as borboletas e as bolhas de sabão...
Ver girar essas pequenas almas leves, loucas,
graciosas e que se movem é o que,
de mim, arrancam lágrimas e canções.
Eu só poderia acreditar em um Deus
que soubesse dançar.
E quando vi meu demônio, pareceu-me sério,
grave, profundo, solene.
Era o espírito da gravidade.
Ele é que faz cair todas as coisas.
Não é com ira, mas com riso que se mata.
Coragem!
Vamos matar o espírito da gravidade!
Eu aprendi a andar.
Desde então, passei por mim a correr.
Eu aprendi a voar.
Desde então, não quero que me empurrem para mudar de lugar.
Agora sou leve,
agora vôo,
agora vejo por baixo de mim mesmo,
agora um Deus dança em mim!

(Autor: Nietzsche)

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