UMA NÉVOA DE OUTONO O AR RARO VELA

Uma névoa de Outono o ar raro vela,
Cores de meia-cor pairam no céu.
O que indistintamente se revela,
Árvores, casas, montes, nada é meu.

Sim, vejo-o, e pela vista sou seu dono.
Sim, sinto-o eu pelo coração, o como.
Mas entre mim e ver há um grande sono.
De sentir é só a janela a que eu assomo.

Amanhã, se estiver um dia igual,
Mas se for outro, porque é amanhã,
Terei outra verdade, universal,
E será como esta [...]

(Autor: Fernando Pessoa)

  

  

 

 


 

domingo, 10 de janeiro de 2010

O Carnaval envelheceu


Foi-se o tempo em que o Pierrot morava em festas. Em fevereiro era coberto de confetes e serpentina, rodopiando alegre e risonho ao som de uma marchinha de carnaval.

Hoje em dia, em plema festa pagã, cá está ele, curtindo a programação da tv, tomando um copo de whisky, sua maquiagem já seca e se desfazendo, sua circunferência abdominal extremamente dilatada.

Em outros tempos ele se preparava para encontrar a Colombina. Ele bem se lembra do beijo que ambos deram no meio do salão. Mas nunca mais se falaram. E onde ela está?

A Colombina também envelheceu. Ela está pelo mundo, conhecendo lugares novos e vivendo outras histórias de amor. Ela também se lembra do beijo do Pierrot. E imagina o que aquele palhaço (no bom sentido de sua indumentária, claro), fez da sua vida. Ela ainda está sambando nos carnavais da vida, mas já pensa na hora em que se preocupará com seus pequenos indo ao baile.

E o Arlequim hein? Ah, o Arlequim não mudou nada. Está lá no meio da fanfarra, soprando uma cornetinha, puxando o trenzinho. Partindo o coração de outras Colombinas, enchendo de raiva outros Pierrots. Ele está esfuziante. Pelo menos até a 4ª Feira de cinzas, quando as luzes serão apagadas, os metais e tambores guardados, os confetes varridos do chão. E aí, mais uma vez, ele será o mais triste dos três.

(Autor: G-Lee)

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